Parindo José Joaquim

Eu sei que esse blog ta jogado às traças. Mea culpa. Ou não, eu tava vivendo loucamente esse momento maluco que é ser mãe pela terceira vez, então não vou me culpar por isso.
Essa, de longe, foi a gestação mais cansativa e estressante da minha vida. Acho que é um recadinho do meu corpo que já deu por essa vida.


Tive um pré-natal de luta com o convênio médico e um azar impregnado em mim a todo momento. Lutei muito para trabalhar duro durante o dia e ser uma mãe mais ou menos a noite, muitas vezes não consegui. Acabei descobrindo o sexo do bebê antes do nascimento. Tive mini infartos a cada vez que minha vakinha pro parto engordava e definitivamente, desejei muito parir.
Os últimos dois meses foram os piores, eu subia as escadas do trabalho esperando o momento em que minha bexiga fosse cair nos degraus, ou sentindo o estalar de ossos dentro da minha bacia. Assim como a maioria das mulheres que já tiveram, 1, 2 ou três bebês no ventre eu estava crente que a gestação não ia passar de 40 semanas.


Mas ela passou, e se eu já estava matando cachorro a grito nas 37 semanas, imagina ao acordar na manhã de 40 semanas e 1 dia. A essa altura eu já tinha despachado o Valentim para a casa da avó, antes que ele crescesse com traumas dos meus chiliques.
Eu decidi que precisava me ajudar a parir. Foi então que…
Tomei uma vitamina com uma colher de óleo de rícino. Seria um convite para que meu corpo engatasse tudo aquilo que ele já estava treinando há semanas. Eram 9h40 da manhã da quinta-feira 21. Eu estava com 40 semanas e 2 dias, e pródromos todas as noites desde as 37 semanas.
Joguei vídeo game o dia todo, passando fases e fases do Hobbit Lego com o Rick. Isso claro quando não estava assistindo Os incríveis ou o Detona Ralph. Brincamos um pouco de pintura… como já estava fazendo a semana toda, tentando deixá-lo ocupado e me fazer sentir menos mal por não ter pique de enchê-lo de momentos lúdicos e significativos.
A culpa me invadia de hora em hora por estar longe do Valentim, de novo, por causa do meu stress gravídico que me fazia gritar com ele a cada segundo, explodir como uma bomba relógio. Já eram dias vendo meu filho dormir por fotos e ficando ansiosa pra ouvir a voz dele por áudios, me senti muito mal por isso.
Arrumei a casa freneticamente durante 15 dias, todo dia era O dia para mim, e meu ninho tinha que estar impecável, tudo tinha que estar feito, limpo e arrumado, com a falsa ilusão de que nunca mais ia sujar. Coisa de gente louca, de capricorniano, ou só de Aline mesmo.
Sempre em contato por qualquer coisinha com a equipe, eu avisei que estava bem, cólicas leves já me deixavam ansiosa e alerta. Fui para a cozinha e decidi fazer a melhor comida que conseguisse… Fiz uma baita sopa de legumes com frango, até me diverti cozinhando, fazia tempo que não pegava numa panela. Henrique bateu três pratadas lambendo os beiços, marido chegou e também elogiou meu pequeno feito.
Um misto de calma e cansaço me invadiu, aquela noite estava sendo somente mais uma e eu estava me sentindo muito bem.
Fiz o Henrique dormir, sentindo saudades novamente do meu pequeno que estava longe. E com cólicas amenas eu decidi que ia para um bom banho, até avisei a Raquel, uma das minhas parteiras, que ia tomar banho e que qualquer coisa eu avisaria.
Formando quase um ritual do Supernatural, enchi o box de óleo essencial de lavanda (pensando em relaxar), coloquei a playlist de parto para tocar no modo aleatório e o chuveiro no modo quente deserto do Saara.
Dancei Yellow Flicker Beat da Lorde (ela sempre nos meus partos), sentei no meu “banquinho de banho” e relaxei, com a água caindo na barriga. Como estava um dia muito frio e meu box não estava fechando completamente, me curvei para frente para que a água caísse na lombar. Só que aí eu senti, algo que sempre li e nunca tinha vivido, o famoso “Ploc” de quando a bolsa se rompe, voltei para traz e constatei, minha bolsa tinha estourado. Tudo ao som de Feeling good da Nina Simone.
Eram 22h. Que frenesi gente! comecei a gritar pelo João, que parecia que não vinha nunca. Quando ele abriu a porta e logo falei:
“Liga pra Raquel, minha bolsa estourou”
Ele deu uma leve desesperada kkkkk acendeu e apagou a luz do banheiro, pegou meu celular, depois o dele, disse que ia mandar mensagem, depois que ia ligar… aí viu que não tinha bateria no celular. Por fim ele mandou mensagem e ligou a pedido meu.
Falei com a Raquel, ela perguntou pelo intervalo das contrações, eu não fazia ideia. Ela pediu que eu monitorasse para ela saber a que pé estávamos. Eu pedi para ficar mais tempo no chuveiro, ela concordou que se eu estava confortável que ficasse mais um pouco mas que monitorasse o intervalo das contrações.
Como as cólicas não estavam mais tão perceptíveis eu sai logo e sentei no sofá, devidamente protegido com um lençol descartável. Até brinquei com o João que eu tava ‘vazando’. As contrações não tinham dor nem ritmo, vinham a cada 10 minutos mais ou menos.
Ele pediu para irmos para a cama, já que ele estava na luta desde as 6h, ia dormir até a coisa engrenar de verdade para poder participar ativamente. Eu fui, mas pedir que eu descansasse era zuera com a minha cara. Coloquei um filme dramático com Will Smith no Netflix e fingi que não estava ansiosa.
As parteiras viriam monitorar os batimentos fetais para saber se estava tudo ok e verificar a cor do líquido. Minha doula-amiga tava se coçando pra vir também e eu pra ter companhia então pedi que ela viesse. Eram 22h30.
Levantei. Acendi um incenso de lavanda, espalhei fotos queridas sobre o rack, fiz um aviso para colocar na porta, caso algum vizinho estranhasse o movimento.
As parteiras chegaram, descarregaram todo o material, em seguida chega Patricia, minha doula. Todas falando baixinho, perguntando como eu estava e sobre as contrações. Monitoraram os batimentos do bebê, tudo ótimo, líquido ótimo, transparente. Henrique até acordou e veio para o meu colo. Mas logo foi deitar com o pai na cama de casal.
Eu estava com dor de cabeça, mas graças a hortelã pimenta bem cheirada (hahaha) vida que segue.
As parteiras foram embora, estaríamos em contato e ela voltavam às 6h, caso nada acontecesse antes.
IMG-20160723-WA0008Minha amiga-doula ficou, eu não dormiria nem que Jesus viesse pedir em pessoa, ela não descansaria longe. Tomei um chá, comi um chocolate, conversamos, ouvimos músicas, as cólicas vinham e não me davam posição para dormir. Dormi sentada na bola suíça, recostada numa pilha de almofadas que ela fez no braço do sofá.

Acordei na hora em que as parteiras tinham combinado de vir, João também acordou e se arrumou para sair e resolver o que precisava no trabalho, avisando a todos que ia ficar em casa. Deixou um café da manhã montado, Henrique alimentado e foi.
Fui tomar um banho, olhei bem a vista da janela do banheiro, eu estava preocupada. Meu trabalho de parto, que tanto foi idealizado como algo rápido, não estava acontecendo. A preocupação tava me comendo viva, como se eu tivesse prazo para alguma coisa. Eu falava o tempo todo para a Patricia que estava preocupada, ela dizia para que relaxar, curtir.
Saí do banho e coloquei uma blusa de lã que passei a noite, estava muito muito muito frio.
As parteiras chegaram, auscutaram, tudo ótimo. contrações mais chatinhas, mas sem ritmo nenhum. Comi alguma coisa.
Brinquei com o Henrique, ele sempre conversador, conquistou a equipe toda. Perguntou porque o bebê não nascia logo. Explicamos que era preciso eu sentir mais dor, para ele conseguir nascer. “Ah então vamos fazer um partinho mamãe?” Todas riram.

IMG-20160723-WA0018Alguém amarrou minha barriga no rebozo, não lembro bem quem, para ajudar no processo e diminuir a dor que eu sentia na pelve.
Em algum momento eu mandei uma mensagem para a Thalita, parteira que me acompanhou no parto do Valentim. Querida demais. Que está além mar, lá no Afeganistão pelo Médico Sem Fronteiras… Confidenciei que a ansiedade estava me atormentando. Que eu estava com medo de não engrenar. E ela maravilhosa, me passou todo amor dela e me disse para curtir o dia, me divertir, porque ela nunca tinha duvidado que eu teria um parto maravilhoso e tranquilo.
Então as parteiras sugeriram um exame de toque, com luva estéril, para sabermos em que posição JJ estava, e como estava o colo.
Colo bem anterior, somente ‘3 fucking centimetros’, e tchanram, surpresinha medonha… mecônio. Diluído, “uma cruz” (existe uma ‘medida’ para a quantidade mecônio presente no líquido aminiótico, que vai até ‘quatro cruzes’). Apesar dessa surpresa, estressante para minha pessoa, o bebê estava bem e respondendo bem as poucas contrações que eu tinha, e eu estava saudável, com pressão e temperatura sob controle.
Mas aquilo já era um alerta na minha mente, e no monitoramento. Teríamos que ficar atentos à evolução daquele mecônio e mais atentos ainda aos sinais vitais meus e do bebê. Um pequeno reloginho começou a fazer tique-taque na minha cabeça, eu só conseguia pensar: “que merda!”.
Tomei mais rícino, e bora caminhar com a doula na rua para estimular essa bagaça. As parteiras chamaram uma amiga delas (a Gabi, uma fofa) acupunturista para investirmos todas as tentativas na missão de engrenar esse parto.
Na caminhada, na qual a pessoa aqui saiu de pijama em plena Rua dos Vianas, conversamos sobre a vida, sobre minha preocupação e sobre o Valentim (que se estivesse conosco ia dar mais trabalho e stress para aquele momento, foi um saco admitir).
Voltamos e começou quase um daqueles circuitos de cross fit, só que com estimulação pro parto. Exercícios na bola suíça, aromaterapia, lanche, música, carinho do filho, perguntas preocupadas do marido (que estava tão nervoso quanto eu), lanche delícia todo natureba que o marido fez e até assisti eles jogarem vídeo game. Não teve jeito, ligaram aquele treco até no meu parto.

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Eu perdi a conta de quantas orações silenciosas eu fiz nessas horas, tudo era tão surreal, como se eu não estivesse ali, com bolsa rompida e toda a maratona acontecendo. Eu só agradecia sempre por ser sexta-feira, dia de plantão de uma obstetra humanizada gatona no hospital que era meu plano B (HMU, hospital do SUS que pari Henrique, é, pois é). Plano B crianças, nunca subestimem a importância disso no plano A. Pode ferrar o que nem precisaria ser ferrado se não for bom.
Chegou a Gabriela, acupunturista, as agulhinhas dela estavam me causando faniquito. Quem me conhece sabe que eu odeio agulha. Mas até que foi bem de boa a sessão, a não ser pelo meu dedinho do pé, deveria ser crime espetar dedinho do pé porque ele já é um ser muito sofrido na vida. Rolou “xingamentozinho” hahaha.
Na hora em que ela acendeu a mocha, subiu o cheirão de ervas pro apartamento todo, lembrei do parto da Ana Paula. E claro, o João achou que era baseado por conta do cheiro de ervas, demos muita risada. Durante as espetadas eu tentei ficar o mais introspectiva possível, ouvindo minha playlist e orando, mas o Henrique queria atenção e participação. Tadinho, ele levou umas broncas do João.

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Aí, que veio a carreata furacão inteira me massagear nesse momento neh?! kkkk Massagens mara, da doula, das parteiras, da acunpunturista, do filho. Foi muito bom ser cuidada gente, obrigada.

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Eu estava literalmente sendo assistida, isso que é protagonismo. Me deixaram ser eu, e me conhecer de verdade naquele momento. A gente não se conhece de verdade até ter que enfrentar o nosso lado bicho.
A equipe decidiu sair para almoçar num restaurante e deixar a gente curtir um momento em família. Fui deitar na cama com o João, conversamos um pouco sobre a preocupação em relação ao mecônio, e ali comecei a sentir uma cólica maluca e dolorida… sem duração necessária, sem ritmo, mas de partir ao meio.
Quando elas chegaram rolou mais monitoramento de BCF, como estava acontecendo de hora em hora… Estava tudo bem, saudável como sempre. Então as obstetrizes sugeriram um novo toque, queriam saber se o mecônio estava da mesma forma, e se todo aquele esforço tinha feito algum progresso no meu corpo. É claro que a minha ansiedade me fez aceitar, eu também queria descobrir, por mais receio que tivesse de saber.
João saiu do quarto para me deixar a vontade com elas. Quatro centímetros. Um a mais. Depois de todas aquelas horas e estímulos. Cabeça mais encaixada e “não-móvel”. Mecônio no mesmo estágio. Bebê bem, gestante bem, porém se eu quisesse ser recebida pela obstetra humanizada no hospital eu precisava estar lá antes do fim do plantão. E foi aí meu camarada que o que eu mais temia veio em forma de balde de gelo. Minhas parteiras, estabeleceram um prazo para que tudo engrenasse (eu entrasse em trabalho de parto ativo) ou o parto seria transferido para o hospital.
Eram mais ou menos 14h. O plantão no hospital acabava cerca de 19h. O plano era chegar por volta das 18h e pouco para que eu fosse atendida e encaminhada por uma profissional que não ia me submeter a procedimentos desnecessários ou me fazer passar por situações constrangedoras por ter vindo de um parto domiciliar. Aquilo me dava 4h para “entrar em trabalho de parto”, nada justo não é?
Chamamos o João, conversamos e combinamos o que aconteceria, ele até chegou a considerar que seria melhor irmos logo para o hospital, mas eu preferi esperar o término do prazo. Pedi para ir tomar um banho quente e pensar na vida.
E com esse sentimento de injustiça eu entreguei os pontos ali. Fugiu do meu controle, totalmente, algum dia esteve no meu controle? Eu fiquei com raiva, não da equipe, não de mim, fiquei com raiva da vida, sabe?
Assim que entrei a Raquel, obstetriz, entrou comigo no banheiro. Lembro claramente dela dizendo: “O que você quer fazer agora?”, e eu só respondi com lágrimas já brotando: “Eu só quero parir”. Então ela me perguntou se eu queria gritar, xingar, e falou que eu podia xingar ela. O fato era que eu não estava brava com ela, eu estava com raiva de nadar tanto para realizar esse sonho e morrer na praia.
Esse parto foi sonhado, idealizado e muito suado de acontecer, quem acompanhou e colaborou sabe. Mais um tapa na minha cara, vindo diretamente do mundo das ilusões e idealizações que mora no meu eu controlador.
Então ela me incentivou a chorar, colocar tudo para fora, gritar se fosse preciso. E foi o que eu fiz, fiquei ali chorando não sei por quanto tempo, até esmurrei a bola suíça. Que vida fanfarrona. Chorei tanto que nem percebi que a parteira tinha saído.
João entrou, disse que foi “enviado” para ficar no banho comigo, de um jeito zuera que só ele sabe ser. Até me fez sorrir. Ele saiu, pegou uma troca de roupa e voltou par entrar comigo no chuveiro. E ali ficamos, oramos durante uma meia hora. Até promessa fizemos de deixar o JJ chamando somente José (um significado muito pessoal para nós). Choramos. Ele me massageou durante as contrações, me deu apoio, carinho, amor. Foram umas 2h de ducha (desculpa mundo, gastei água de duas gerações).
Quando saímos eu estava meio… deprimida. Eu pensava sem parar nas pessoas que me ajudaram, que contribuíram pra vakinha, que me apoiaram, e que porcaria de sentimento me invadia. Pensei “ah, se é pra ir pro hospital, tomar ocitocina na veia e tudo mais, eu vou dormir. Descansar pra sabe-se lá o que eu vou passar”, então eu só vesti o top que comprei pra aparecer nas fotos do parto, uma calcinha e me joguei no sofá.
Não queria ver ninguém, falar com ninguém. A Patrícia e a Thais me fizeram um escalda-pés com ervas. Recebi massagem e tomei um chá.
Me cobri até a cabeça e cochilei. Acordei com uma movimentação, as parteiras saindo (minha querida parteira teve alguns problemas pessoais e mesmo assim permaneceu comigo até o fim, serei eternamente grata Quel).
Acordei de novo com o João perguntando se mandava o Henrique para a casa da minha sogra e concordei. Foi ali, a sentença na minha cabeça de que meu parto domiciliar tinha ido pro beleléu, mandar meu filho embora do parto que ele também sonhou em ver. Me despedi dele, expliquei que iria para o hospital, agradeci todo o amor e companhia que ele me deu naquele dia. Lembro de ir ao banheiro e na volta receber um abraço gostoso da minha doula que me disse “cada um tem uma história, cada um vem de um jeito”. E voltei a dormir, apaguei, até sentia as cólicas, mas passava por elas em silêncio.
Acordei com o sonar e mais uma ausculta dos BCFs. A Thais, obstetriz, me examinou e disse a melhor coisa que tinha ouvido naquele dia. “Vamos esperar”. Elas conversaram, íamos ficar em casa enquanto estivéssemos saudáveis e conforme minha vontade, manteríamos o trabalho de parto em casa. Mesmo que eu fosse para o hospital e não estivesse nas melhores mãos, o plano era entrar com uma delas e continuar lutando por uma boa experiência no ambiente hospitalar.
Veja bem, hoje, analisando todo aquele stress… eu me prendi a ideia de ser atendida por uma médica x, para receber boa assistência e isso colocou um prazo de validade no meu parto domiciliar, é isso o que o sistema obstétrico daqui faz. Ele limita as mulheres, e não dá opções, acaba com sonhos por medo. Melhor prevenir que remediar. Melhor desistir que sofrer com o despreparo alheio. Nada justo.
Desde o momento que eu recebi o bônus “tempo pra parir”, meu humor mudou. O clima do ambiente tinha mudado, estávamos esperando comida que o João tinha pedido e rindo, conversando. Só aí prestei atenção na parede lousa da sala que estava toda ilustrada por desenhos do Henrique e da Raquel ❤

Parteira se divertindo que nem criança na parede-lousa

Parteira se divertindo que nem criança na parede-lousa

Decidi chamar a Heloisa, minha amiga fotógrafa, que ia registrar o parto. Relutei em chamá-la durante todo o processo porque não queria registrar um parto “não ativo” com uma possível transferência, sim sou idiota, muito prazer. Mas a meninas me convenceram de que seria legal ter um registro do meu parto, independente de qualquer coisa.
E aí começou a sessão micão, dona redonda dançando a lista das melhores da semana do Spotify, no meio da sala, só de top e calcinha. Foi muito divertido. Primeiro porque eu nunca tinha dançado de forma tão espontânea, segundo porque eu estava a vontade.
Minha equipe de parto foi a melhor ever. Só pra registrar mesmo.
A comida que não chegava nunca, e as contrações começaram a ficar bacanas (só eu pra achar dor bacana!). A fotógrafa chegou junto com o jantar. Estava tudo muito descontraído.
Tentei jantar, mas comi bem pouco. As dores estavam vindo sem trégua. E como um código secreto que todos aderiram, ninguém comentava sobre o fato de eu estar tendo contrações boas e constantes, a Thais só anotava no prontuário e todos deixavam fluir.
Quando foi 20h10 precisamente, as contrações ganharam ritmo e duração. Eu já não estava tão a fim de dançar, e já vocalizava.
Fui ao banheiro e #todasgritam “não tranca a porta”. “Pff!” Ta bom! Eu é que não ia usar o banheiro de porta aberta hahaha! Bora fazer gambiarra… Encosta a porta e abre a gaveta do armário pra ninguém entrar de sopetão. Dali a pouco fui só avisar que estava tudo bem e meti a perna na porcaria da gaveta, Aline sendo Aline, minha perna dói até hoje.
Quando voltei do meu elegante aviso, veio também uma contração, e eu me acocorei no chão do banheiro. E uma lampadinha acendeu em cima da minha cabeça, como naqueles desenhos animados – “Eu to em trabalho de parto!!!!” Se não estivesse revirando o olho de dor eu fazia a dancinha da vitória.
Aí que quando eu saí de lá eu nao via mais nada, partolândia total, me ajoelhei no chão da sala durante a contração e ali fiquei. Apoiada no sofá, me prendendo nas pernas e nas mãos do João, recebendo massagem da minha doula incansável.
Meeeeeu, eu gritei. Pensa, que eu sempre fui uma pessoa comedida, até nos partos eu gritava no modo easy. Mas nesse eu urrei igual leão. Uma contração vinha em cima da outra, não dava para respirar. Tiveram que me lembrar como era respirar.
E não era qualquer gritinho não meu bem, eu gritava pedindo ajuda, falando que tava doendo, gritava o nome da doula, chamei socorro, chamei Deus. Hahaha, ainda bem que ninguém entrou aqui para me salvar ou chamou a polícia. (Serei pauta da reunião de condomínio, sim ou com certeza?)
Enquanto eu brincava de fazer falsete no chão da sala 😛 , eu via as parteiras arrumando todo o material de parto na mesa, estava acontecendo. Eu ia conseguir. Depois que a contração passava eu me jogava que nem uma geleca no colo da Patrícia, tadinha, ela até tentou sair pra beber água, eu não deixei. (Sorry amiga <3)
E claro que aproveitei o momento para dar uns tapas no João, ele nem quis trocar de lugar com a doula.
Quando a dor não estava mais suportável eu pedi para ir pra água, e as meninas começaram a tentar esquentar o banheiro porquê estava uma noite gelada, e os dois aquecedores não estavam dando conta.
Mas como sempre, na hora que eu peço chuveiro, vem a vontade de vomitar, e vem o puxo. Hahaha que corpo lindo eu tenho que trabalha da mesma forma todas as vezes. Eu disse que estava com puxo, e que ia vomitar. E em dois segundos senti a cabeça do JJ descendo dentro de mim. Maravilhoso.
“Ta nascendo” disse a gestante que não acreditava mais que ia parir ali, aquela que estava desesperada sem confiança no próprio corpo. A calma me tomou por completo. Tirei a calcinha, as meninas colocaram um lençol descartável de baixo de mim e o João me deu a mão para apertar – “Mosi eu to aqui com você, vai dar tudo certo”. O expulsivo foi bem intenso para mim, lembro de gritar, de chamar meu filho pelo nome e sentir um círculo de fogo maior que a mim mesma.
Nasceu a cabeça. As meninas me lembraram de que eu queria recebê-lo com minhas próprias mãos. Fiz um cafuné na cabecinha cabeluda, mas na hora eu arreguei, pedi para que elas pegassem. Fechei os olhos e senti o corpo inteiro do meu filho nascendo, que coisa poderosa, elas só o ampararam e eu o aninhei.
Que olhos gigantes e expressivos tem o José Joaquim, me olhou na alma assim que o peguei. Chorou forte. E eu também. Chorei de alívio, de alegria, de emoção, gritando ‘eu consegui’. Eu driblei tudo, e até eu mesma, e consegui parir meu bebê da forma mais natural, suave e amorosa.

foto da linda Helo Zangheri

foto da linda Helo Zangheri

A Raquel escreveu a hora de nascimento na parede, ao lado do nome dele (que ela não sabia inteiro, e eu em plena partolândia corrigi haha :P).
Fui para o sofá, para o desespero do João, que teve um ataque de pelanca quando a placenta saiu achando que o lençol absorvente não ia dar conta e o “sofá dele” ia manchar. Amamentei de uma forma toda zuada, porque eu tava podre de cansada e de fome.
E daí foi só alegria, fui para a minha cama, João foi faxinar a casa. Bebê examinado e tudo lindo, 3,825kg (descontando o peso dos paninhos que o enrolavam), 52 cm, quase nenhum mecônio e apgar 10.
Foi um parto difícil de descrever, principalmente por conter tantos detalhes que eu não quero esquecer nunca mais. Ele me trouxe um sentimento de missão cumprida, verdadeiro significado de realização. Que vontade de viver eu tenho hoje, mais do que nunca, que alegria imensa eu irradio toda vez que olho para meus três meninos. Tenho certeza de que mesmo que eu esqueça muitas coisas vitais quando envelhecer, dos meus partos eu nunca vou me esquecer.
Quero agradecer de alma e coração a todos os que estiveram comigo durante a luta pelo meu parto, ao meu marido, por comprar a briga comigo e ter como meta realizar o meu sonho. Dessa vez você participou ativamente em todas as etapas meu bem, sei que também vai guardar para sempre na memória essa experiência. Preciso dizer que te amo?
À minha equipe do REM, Raquel e Thais, obstetrizes maravilhosas, que me deixaram segura e fizeram de tudo para que eu conseguisse o meu parto domiciliar. Amo vocês duas, o carinho e apoio que me dão até hoje vai estar pra sempre no meu coração.
Um paragrafo especial para a minha doula/amiga/colega de curso/maravilhosa Patrícia. Você demonstrou o significado exato da palavra doula, durante toda a minha gestação e parto o seu comprometimento comigo foi vital e algo que vou levar para a vida toda. Obrigada por cada tarde de conversa, cada presente, cada ajuda, incentivo, abraço, sorriso e carinho. Das poucas amigas que eu tenho você é uma das mais importantes. Não há pagamento suficiente para o que você fez por mim.
Agradeço à minha sogra, que tem cuidado dos meus filhos, de mim, da minha casa, todos nós. Você sempre quis ter uma filha Lisa, eis me aqui. Não há palavras para dizer o que você significa na minha vida hoje, amo você.
Se JJ ta limpinho, cheiroso e quentinho nesse momento é também graças às minhas amigas Aline, Tamyres e Franciele. Só eu pra ter dois chás de bebê com tanto amor e benção, só vocês para me proporcionar isso. ❤
Todo meu amor para a fotógrafa que registrou os momentos de glória desse parto. Helô, não entramos na vida uma da outra por acaso. Agradeço demais a sua delicadeza e amor, me desculpe não ter chamado antes, eu sou uma anta fofinha as vezes. Ansiosa para ver seu lindo trabalho.
Obrigada à cada amigo e familiar que contribuiu para a Vakinha. Mirtes, Lucas, Marcio, Rafaela, Deborah, Juliana, Patricia, Amanda, Raquel, Heloisa, Igor, Pai e De, Mãe e Fábio, Vó, Tio Marcus e Tia Su, Aline… toda essa experiência maravilhosa só foi possível por causa do amor de vocês. Me fizeram sentir querida. Nunca saberei como agradecer.
Por fim, todo o tempo, desde a primeira lágrima até a última, Você esteve lá comigo Senhor. Você vem andando comigo todo esse tempo. Eu nunca estive sozinha e Você sempre reforça isso nesses momentos.

Mulheres, acreditem no poder que o corpo feminino tem. Se tem uma lição que eu tiro, é que duvidar da eficiência desse corpitcho aqui é pura bobagem. Mulheres sabem parir, mulheres gostam de parir.

 

2 comentários sobre “Parindo José Joaquim

  1. Ana Agnelli disse:

    Estou aqui emocionada e em lágrimas pelos relatos da vinda do JJ a nossas vidas filha. Sinceramente eu sou orgulhosa da filha que tenho. Da mamãe linda que se tornou, da mulher de força e de coragem e esposa dedicada. Amo você de todo o meu coração com toda a minha alma.

  2. Mariana Campello Cosentini disse:

    Chorando litros aqui!!!!
    Lindo parto, linda transformação de acreditar e desacreditar e depois voltar a acreditar em ti.
    Muita saúde para todos seus meninos. ❤

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